Coisa nova
Interrompendo meu raciocínio, eu resolvi não pensar mais em nada, resolvi não me deixar vestígios em uma direção consciente de inspecionar, avaliar, calcular resultados. Procurei não ofertar dúvidas para que outras dúvidas com poucos resquícios pudessem ser solucionadas. Não há solução para o que não se ofertou como problemática a ser resolvida. Embora o problema persista na imagem distante de proto-problema, isto é, onde o não-problema passa a ser um problema justamente por não ser levado como um problema, mesmo que pequeno, ainda sujeito a pequenas dúvidas, ou sujeito a pequenas desconfianças.
Do que eu estou falando? Você não pode saber, eu não vou contar. E mesmo que soubesse, isso não mudaria em nada. Esses dias tenho tentado não pensar e ocultar assim o problema da vista de todos e da minha, não o deixar às escâncaras, é uma maneira de evitar que esses pensamentos tornem-se o que eles não são e tornem-se uma metástase, um amontoado de furúnculos e tumores. Mas a pergunta, essa que passa pela minha cabeça a despeito de eu evitar pensar ativamente sobre qualquer pergunta, qualquer dedução, essa pergunta me pergunta se em algum instante, mesmo que eu não raciocine agora, raciocinarei tudo de uma vez depois, ou só sentirei tudo depois sem pensamentos, apenas com uma cabeça límpida da procura racional? Eu não sei, não quero pensar nisso agora. Prefiro o impulso, procuro por ele e todos esses dias tem me pedido mais impulsos.
Se não há nada a ser pensado, que eu continue aqui sem nada a ser pensado. Quer dizer, é melhor que eu continue procurando por novas coisas a serem pensadas, então, já que das antigas não há muito o que tirar delas. E dessas novas, com coisas mais evidentes, com novos problemas ainda mais intrigantes, farei mais deduções a não serem pensadas depois de eu já ter gastado tudo o que eu deveria pensar a respeito do que eu não deveria ter pensado, assim passarei de uma coisa nova para outra coisa nova, e em algum momento aprendo a não pensar em mais nenhuma coisa seja ela nova, seja ela velha. E nada restará de intrigante.
Quinta-feira, 25 de abril de 2024